“É uma luta muito grande para mostrar para as pessoas que a nossa religião é bonita. Que nossa religião ensina amores, ensina fraternidade, ensina a ter responsabilidade, caminho. Isso é o que eu ensino e procuro perpetuar”, acentuou Yá Edneia. Recordando contextos adversos pelos quais muitas vezes passam os praticantes das religiões de matriz africana, Yá Edneia refletiu sobre o modo de ser de muitas pessoas que criticam algo sem conhecer. “As pessoas precisam começar a ir aos terreiros para ver o que tem lá dentro. É muito fácil você criticar aquilo que você não conhece sem procurar saber”, disse.
Conversando com os estudantes e professores da Universidade e a comunidade externa presente no evento, Yá Edneia pediu para que todos possam olhar com mais carinho para as religiões de matriz africana, para o Candomblé e para a Umbanda. “Porque são duas religiões lindas. Quando a gente vive isso, a gente aprende que nesse mundo há tanta coisa para a gente aprender, passar, partilhar. E que não seja o ódio, mas que seja o amor, a construção de um mundo melhor. Independe da religião, pois o Deus para nós é um só”, pontuou.
Graduada em Turismo e Hotelaria, com pós-graduação em Psicopedagogia, Yá Edneia partilhou, durante a fala, um pouco de sua história de vida e do caminho de sete anos de formação até chegar à Mãe de Santo. “Somos urgidos e preparados como os padres também são. É muito importante e eu faço questão de mostrar para os meus filhos, para que eles tenham força de vontade de buscar conhecimento, porque nossa religião é muito rica. É muito ampla. Ela tem um leque enorme com as suas nações, dentro de sua linguagem Iorubá. A gente vê nossas religiões de várias maneiras, mas as pessoas preferem ver com os olhos errados”, lamentou.
O vice-diretor do Campus de Cornélio Procópio, Ricardo Campos, agradeceu à Proec pela realização do evento e falou sobre a importância da Mostra. “O conhecimento é um espetáculo. O conhecimento é um espetáculo necessário para dissipar a ignorância que é a grande mãe das intolerâncias. E nada melhor do que a Universidade, com esse ambiente, para levar esse conhecimento que contribui para que nós, cada vez mais, possamos dissipar essa mãe das intolerâncias”, disse o professor.
O coordenador do NEABI da UENP, Antônio Donizetti do Nascimento, acentuou que a Mostra de Arte Afro vem ocorrendo com muito desejo de trazer a expressão, a cultura, a possibilidade de entendimento da luta de um povo. “O povo negro, que nesse país se fez escravizado por mais de 400 anos, resiste com sua cultura, com sua bossa, com sua ginga, e está aqui para dizer algumas coisas. Essa Mostra maravilhosa faz parte daquilo que tentaram esconder, silenciar, que se chama África”, ressaltou Donizetti.
O diretor de Cultura da UENP, James Rios, ressaltou a importância da partilha de outros saberes que não são, necessariamente, institucionalizados. “Para além de fomentar a produção e circulação da arte de artistas negros, a Mostra também visa a partilha de saberes que, muitas vezes, não estão dentro da Universidade. Precisamos olhar e reconhecer outras formas de aprendizagem, de educação e cultura, os quais estão situados no seio das comunidades tradicionais, como os povos quilombolas e indígenas. Por isso, externo a minha gratidão à Yá Edneia e a o Ogã Mestre Capu pela partilha de hoje”.